quarta-feira, 29 de junho de 2011

CEBS E REDES DE COMUNIDADES

CEBS E REDES DE COMUNIDADES
- Uma pesquisa a serviço da Igreja dos pobres -

Recentemente concluí o mestrado em teologia sistemática pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) na cidade de Belo Horizonte. A intenção não se reduziu à aquisição de diploma, mas, acima de tudo, refletir, a partir da experiência pastoral acumulada, sobre algumas inquietações teológicas suscitadas pela ação nas comunidades. Partilhar com vocês da Fraternidade Secular alguns fragmentos dessa pesquisa nos permite aprofundar o debate atual acerca do tema das redes de comunidades. Após o aprofundamento dessa pesquisa a ser continuado no doutorado, proponho-me a publicá-la. Aqueles/as que quiserem tecer suas críticas, fiquem à vontade. Falo nesse artigo da cidade onde trabalhei e culmino na descrição das minhas conclusões nesse trabalho. Naturalmente apresento algumas motivações pelas quais me propus a investigar o tema.
Santa Maria (DF), início do novo milênio, multiplicam-se várias comunidades cristãs. Observa-se a efervescência religiosa somada à esperança de dias melhores. Convive-se com a violência urbana e a pobreza. De outro lado, percebe-se a coragem e o entusiasmo de um povo lutador. A Igreja católica, presente nesse contexto, procura encontrar respostas pastorais adequadas às exigências da evangelização. Opta-se pela formação de redes de comunidades como modelo eclesial a fim de responder a tais desafios. Observa-se a consolidação da dinâmica ministerial da Igreja, do protagonismo dos leigos, da ação missionária, do interesse pela formação, da opção pelos pobres, enfim, pelo menos, em circunstâncias locais, a estruturação de uma parcela da Igreja particular organizada em CEBs. As redes de comunidades em Santa Maria conviviam com o modelo paroquial, no território da Paróquia São José. A caminhada nos sete anos de trabalho nessa paróquia, somada às diversas experiências pastorais acumuladas na última década[1], despertaram nosso interesse em sistematizar teoricamente a eclesiologia das CEBs na perspectiva das redes de comunidades.
Atualmente, em muitas dioceses brasileiras, implanta-se novo modo de organização da vida da Igreja particular à maneira de tais redes. À luz dos escritos de Faustino Teixeira[2] e do material produzido nos Encontros Intereclesiais, desenvolvemos, neste trabalho, a eclesiologia das CEBs, como rede de comunidades, que supere a forma institucional das paróquias na esteira da concepção de Igreja como Povo de Deus do Concílio Vaticano II. Com as CEBs, inaugura-se novo modelo eclesial, mais participativo, que favorece o protagonismo dos leigos, reconhece o papel das mulheres, permite outra concepção ministerial e possibilita maior inserção no mundo face aos atuais desafios da globalização com o engajamento político e as diferentes formas de inter-relacionamento social.
O Concílio Vaticano II, realizado entre os anos de 1962 a 1965, inaugura novo tempo na vida da Igreja. Explode uma virada eclesiológica. Entre os seus diferentes aspectos, destaca-se maior abertura de diálogo com o mundo, com as culturas e com as demais religiões. Na busca de realizar tal objetivo, a Igreja repensa a liturgia e o modo de transmissão da fé e define-se como Povo de Deus. Afirmam-se a colegialidade episcopal, a importância da Igreja particular e a inculturação da fé nos meios de evangelização.
Na América Latina, desde a realização do Concílio Vaticano II, os bispos ocupam-se da recepção criativa do Concílio na América Latina. Assim dizia D. Manuel Larraín[3], na etapa final do Concílio: “o que vivemos é impressionante, mas, se, na América Latina, não estamos muito atentos aos nossos próprios sinais dos tempos, o Concílio passará ao lado da nossa Igreja, e quem sabe o que virá depois”[4]. As Conferências Gerais do Episcopado Latino Americano, em especial Medellín e Puebla, e, no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) configuram-se como os principais instrumentos da recepção do Concílio em nosso continente. Nessas conferências, além de os bispos pensarem a recepção prática do Concílio, a partir da realidade de opressão e sofrimento do povo, assumem a evangélica opção pelos pobres.
No âmbito local das dioceses, as CEBs significam sinais de Deus no novo jeito de ser Igreja; desabrocha-se nova eclesiologia do Povo de Deus. As CEBs caracterizam-se como pequenas comunidades, no protagonismo exercido pelos leigos, no modo de celebrar as liturgias, no compromisso com a justiça social, pela relação existente entre fé e vida e através da leitura popular da Bíblia. Por outro lado, percebe-se o modelo paroquial inadequado à eclesiologia proposta pelo Concílio Vaticano II.
Na dissertação tratamos das redes de comunidades a partir da eclesiologia de Faustino Teixeira e do material produzido nos Encontros Intereclesiais das CEBs. No primeiro momento, recorremos a autores que tratam das redes em outras ciências. As redes apresentam-se como a forma atual da organização da sociedade em diversos meios. Superam-se os modelos verticais e amplia-se o nível de relacionamentos. Desse modo, reconhece-se a pluralidade e estabelecem-se novas formas de gestão. A Igreja, desde o Concílio Vaticano II, busca dialogar com a modernidade e atualiza o modo de agir segundo as exigências de cada época. As CEBs no Brasil representam novo modo de ser Igreja inaugurada pelo Concílio. Organizar a Igreja em redes de comunidades significa atualizar a compreensão eclesial tornando-a flexível, dialógica e ministerial. Permite-lhe participar ativamente da vida social e estabelecer relações mais próximas e efetivas com a sociedade.
A contribuição dessa pesquisa pode oferecer diversos elementos. Desde a proposta para o conceito de redes até a sistematização prática das consequências de tal modelo eclesiológico. O próprio interesse em retomar a pesquisa de Faustino Teixeira e os documentos dos Intereclesiais configura-se como atual e relevante. A novidade revela-se em encontrar nessas fontes elementos que permitam pensar as redes de comunidades.
A realidade mostra a necessidade de constituição de redes. Tanto Faustino Teixeira quanto o material dos intereclesiais, oferecem instrumentos eclesiológicos para pensar a Igreja em redes de comunidades. Adotamos o método Ver-Julgar-Agir. No primeiro capítulo, tratamos da contextualização e origem das redes. Estas, vistas nos aspectos econômicos, políticos e culturais. Procuramos mostrar os diversos lugares onde se utilizam as redes. Desse modo, ampliam-se os horizontes de percepção dos rumos assumidos na sociedade. As mudanças provocadas pelo paradigma das redes despertam nas organizações a necessidade de rever suas estruturas.
Nos conceitos apresentados, resultantes de todo o contexto, propomos as redes como o conjunto de relações entre indivíduos, grupos e organizações de natureza não hierárquica e interdependente. Elas estabelecem entre si relações duradouras a fim de atingir metas comuns e valorizam aspectos como autonomia, flexibilidade e cooperação entre os envolvidos. Vimos como características das redes a constituição de dinâmica relacional, relações duradouras, fluidez, estrutura policêntrica e pluralidade de atores envolvidos. Organizam-se por complementaridade, autonomia, interdependência, flexibilidade e as redes possuem seus componentes básicos autogovernados e autossustentados.
A partir da concepção “Povo de Deus”, concebida à Igreja pelo Concílio Vaticano II, averiguamos, nas CEBs, a recepção viva e criativa deste novo modo de ser Igreja. Faustino Teixeira oferece diversos elementos para entendê-la. O autor, além de explicitar a importância e significado das CEBs, indica elementos possíveis para entender a Igreja em redes de comunidades. Tratamos da percepção de Faustino Teixeira ao explicitar as CEBs como Igreja nascida da base, o papel dos leigos, a aproximação com os movimentos populares e a sintonia entre as CEBs e a instituição eclesial. Neste último aspecto, mostramos quando há sintonia e quando não há, mediante as recentes mudanças na conjuntura eclesial reacionária à abertura do Concílio Vaticano II.
Selecionamos diversos aspectos dos Encontros Intereclesiais que abonam tal perspectiva de redes. A realização do próprio encontro expressa a dinâmica das redes de comunidades. Aflora-se a vivência ministerial da Igreja em tal organização. Revelam-se aspectos teológicos e pastorais referenciais para as comunidades a partir dos encontros. Estes abrangem aspectos ligados à espiritualidade, à comunhão, à participação, ao ecumenismo, ao diálogo inter-religioso, ao profetismo e ao compromisso social. Todos esses aspectos contribuem para a viabilidade das redes de comunidades.
Em seguida apresentamos dificuldades teológicas surgidas ao longo da pesquisa. Entre eles, o monolitismo pastoral, a eclesialidade das CEBs, segundo o questionamento de alguns bispos, e os problemas levantados por Leonardo Boff e Faustino Teixeira quanto à inviabilidade de estruturação da Igreja em redes de comunidades. Quanto aos problemas surgidos, indicamos alguns caminhos possíveis de solução a partir da própria abordagem desses autores e da proposta de Pedro Ribeiro com seus referenciais sociológicos. As CEBs, vistas como unidade estruturante da Igreja, sucedem a função antes assumida pelas paróquias. Assumir as redes de comunidades a partir da base torna-se decisivo para o futuro da Igreja.
O principal referencial teológico da eclesiologia das CEBs refere-se à eclesialidade baseada na comunhão. Não entendida como obediência à autoridade eclesiástica, mas comunidade de serviço e amor cuja categoria teológica estabelece relações horizontais entre os fiéis. A comunhão eclesial impulsiona a participação. Concebe-se a igreja toda ministerial. No novo modo de ser Igreja, ganham as mulheres. Elas encontram espaço de atuar e decidir. Superam-se a discriminação e o preconceito disseminado há séculos na Igreja. Os presbíteros passam a atuar de modo novo. Eles animam e garantem a unidade da comunidade. A função do padre direciona-se a suscitar novas lideranças e a colaborar para os leigos assumirem o protagonismo na comunidade. As mudanças tendem a atingir o próprio bispo. Tornar-se-á próximo das comunidades. Os leigos terão fácil acesso ao bispo, e as decisões na Igreja contarão com a participação de todos os fiéis.
Por fim tratamos das consequências pastorais. Respondemos à pergunta de como funciona, na prática, as redes de comunidades. Vários elementos sugestivos alimentam tal perspectiva. Inclui aspectos internos da vida eclesial e externos ao relacionar as CEBs com Igrejas, religiões e organizações solidárias à luta dos excluídos. No primeiro momento desenvolvemos as redes de comunidades nas relações interpessoais, inteministerial e intercomunitárias. Três aspectos fundamentais e complementares para a organização das redes de comunidades. No segundo momento tratamos da dimensão ecumênica e “macro-ecumênica” das redes de comunidades. Refere-se às relações possíveis entre Igrejas, religiões e culturas. Por último, apresentamos a formação de redes entre as CEBs e as organizações comprometidas com a vida dos pobres. Daí a importância da formação de redes com as pastorais sociais, os movimentos sociais e o movimento ecológico.
As realidades no Brasil reúnem diversas experiências. Multiplicam-se experiências de redes de comunidades. Naturalmente não tratamos disso neste trabalho. Apenas procuramos indicar caminhos possíveis à luz da compreensão de redes e das dimensões a desenvolver-se em tal perspectiva. As redes de comunidades recentemente ocupam centralidade nos planos de pastoral das dioceses. Se bem compreendidas, podem desempenhar progresso na ação pastoral. O risco permanece em torná-las unidades subordinadas às paróquias. Representa colocar “vinho novo em odres velhos” (Mc 2,22). A descentralização das estruturas da Igreja significa desparoquializar a diocese. Romper com a clericalização. Urge favorecer maior participação entre os fiéis. Edificar a Igreja de modo ministerial. Ratificar a opção pelos pobres. Fortalecer a comunhão eclesial. Ampliar a força carismática da Igreja a serviço da missão.
            Leonardo Boff, ao concluir sua obra Homem, satã ou anjo bom? escreve: “a utopia vai sempre além de qualquer horizonte dado. A utopia representa a antecipação do que vai ser: a esperança em plenitude” (BOFF, L., 2008, p.220). A Igreja organizada em redes de comunidades não deve ser vista como ilusão ou fantasia. Apresenta-se como utopia, esperança em plenitude, perspectiva viável e decisiva para a presença da Igreja no mundo e cumprimento da missão de anunciar o Reino de Deus. Este, concretizado nas condições históricas atuais. Em tempos de mudanças de época, Moltmann[5] afirma que “no fim, sempre se revela um novo início”[6]. E propõe: “somente seremos capazes de novos inícios se estivermos dispostos a abandonar o que nos atormenta e o que nos falta. Se procurarmos o novo início, ele nos encontrará” (MOLTMANN, 2007, p.9). Eis a decisão de avançar na construção nesse “novo jeito de ser Igreja”.


[1] Após o período do seminário em Brasília, exerci o diaconato por três anos antes da ordenação presbiteral. Nesse período trabalhei em Brazlândia-DF, Itapuranga-GO (diocese de Goiás), e Ceilândia-DF (em duas paróquias). Após a ordenação, fui nomeado para a paróquia S. José em Santa Maria-DF (ofício de vigário paroquial por seis meses e pároco por sete anos). Além da paróquia, trabalhei com coordenação da catequese no setor VII da Arquidiocese de Brasília (2001-2004); assessoria de CEBs em Brasília e no Regional Centro-Oeste (2001-2005); em seguida, coordenação regional das CEBs e membro da ampliada nacional (2005-2007); assessor da Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Brasília (2003-2007); vice-presidente da Associação Nacional dos Presbíteros do Brasil – ANPB (2002-2005). Além dessas atividades, contribuí na organização do I Seminário das Santas Missões Populares organizado pela CNBB (2004) e participei da organização do 10º Encontro Nacional de Presbíteros - ENP (2006). Colaborei ainda na gestação do Seminário de Teologia no Cerrado (organização que envolve diversas entidades e pastorais em redes na elaboração da teologia popular oriunda das nossas práticas pastorais em diversas realidades do Distrito Federal e entorno).
[2] Faustino Teixeira é doutor e pós-doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma. É professor-associado e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (PPCIR-UFJF), em Minas Gerais. O doutorado e mestrado foram dedicados à pesquisa sobre as CEBs cujo resultado foi publicado em três livros. Atualmente Faustino Teixeira pesquisa na área do diálogo inter-religioso, teologia das religiões e mística comparada.
[3] Bispo de Talca no Chile. Junto com D. Hélder Câmara, teve papel importante no Concílio Vaticano II. Colaborou na criação do CELAM em 1955, sendo eleito seu primeiro vice-presidente. Lutou pela reforma agrária no Chile e exerceu a função de bispo em Talca entre os anos 1938 a 1966 até sua morte em acidente automobilístico. Na época exercia o cargo de presidente do CELAM. Além de D. Hélder, foi amigo de Padre Hurtado, jesuíta chileno que se destacou pelo grande amor pelos pobres.
[4] “Lo que hemos vivido es impresionante, pero si en América Latina no somos atentos a nuestros propios signos de los tiempos, el Concilio pasará al lado de nuestra Iglesia, y quién sabe lo que vendrá después”. Cf. COMISSÃO NACIONAL DOS PRESBÍTEROS. 2007, p.44 (tradução nossa); GUTIERREZ, 1989. p.38.
[5] Jürgen Moltmann, natural de Hamburg, foi pastor na cidade de Bremen. Habilitado para a docência nas áreas de História do Dogma e Teologia Sistemática, lecionou nas Universidades de Wuppertal (1957-1963), Bonn (1963-1967) e Tübingen (1967-1994). Inspirado na obra de Ernest Bloch escreveu em 1964 a obra “Teologia da Esperança”.
[6] Cf. MOLTMANN, 2007.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Depoimento de policial designado para prender D. Pedro Casáldaliga.

Acompanhem esse vídeo, trata-se do depoimento do policial José Barros, designado para prender D. Pedro Casáldaliga. Vídeo importante para pensarmos sobre o valor dessa Romaria dos Mártires.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Calendário da Semana

26/06 - Dia Internacional das vítimas de Tortura e dia internacional da luta contra o uso indevido e o tráfico ilícito de drogas.
27/06 - Dia da Fraternidade - Encontro dos padres da Fraternidade Sacerdotal Jesus+Caritas nas POM.
28/06 - Em 2009 acontece o golpe de estado em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya, hoje de volta ao país.
29/06 - Em 1997 foram condenados os fazendeiros "mandantes" do assassinato do Pe. Josimo Morais Tavares (+1986).
30/06 - Dia dos mártires da Guatemala.
01/07 - 30 anos do martírio de Túlio Maruzzo, e Luiz Navarrete, mártires na Guatemala.
02/07 - Aniversário da Rebelião dos Tupinambás de 1617.

sábado, 25 de junho de 2011

Romaria dos Mártires da Caminhada

Conforme vocês observaram no calendário da semana, hoje faremos no CCB, às 18hs, a vigília em preparação a Romaria dos Mártires da Caminhada. Já estamos com quase três ônibus prontos para partir em Romaria. O Povo de Deus em Brasília mostra sua força e entusiasmo profético e espiritual na caminhada pela construção do Reino.
Partilho a carta que recebemos da Prelazia de S. Féliz do Araguaia:

Queridos Romeiros e Romeiras
A nossa Igreja de São Felix do Araguaia está em Romaria. É tempo de romaria: 40 anos! E com ela tantos irmãos e irmãs que buscam nos mártires inspiração e lição para serem as Testemunhas do Reino.
O nosso coração se enche de alegria, paixão e vida porque somos convidados/as a celebrar a Romaria dos Mártires da Caminhada. Esta Romaria é um acontecimento de toda a Igreja, de modo especial da Igreja Latinoamericana e Caribenha e de tantas pessoas solidárias que querem celebrar e manter viva a memória daqueles e daquelas que deram suas vidas pelas causas maiores de nossas lutas e sonhos, que são as Causas da Vida, as Causas do reino. A organização desta Celebração é de responsabilidade da Prelazia e sempre é organizada num grande mutirão.
Com grande alegria, convidamos para celebrar conosco esta grande festa das Testemunhas do Reino que realizar-se-á nos dias 16 e 17 de julho de 2011.
É Páscoa, festa da vida, festa do mistério da morte e ressurreição de Jesus, a Testemunha Fiel – “Cristo venceu, aleluia! Ressuscitou, aleluia! Brilhante luz iluminou as trevas”...
A Romaria já está acontecendo no coração e na vida das nossas comunidades, do Brasil, da Nossa América e do mundo. Temos muito que organizar, preparar e encaminhar. A Romaria é nossa, vamos juntos e juntas em mutirão construir esta grande festa.

1.      Preparação
Ø     Promover encontros para celebrar, refletir e aprofundar o que é a Romaria, as Causas dos mártires que são as Causas do Reino;
Ø     Conhecer e ou organizar um encontro para celebrar a história, a vida e o testemunho de alguns/algumas mártires;
Ø     Materiais que poderão ser utilizados:
a.        Oração da Irmandade;
b.      Celebrações martiriais: Via-sacra e terço;
c.       Galeria dos Mártires da Caminhada;
d.      Ofício dos mártires da caminhada;
e.       Tríduo dos Mártires da Caminhada Latinoamericana;
f.        Cartaz da Romaria.
2.      Romaria

Para que você e sua caravana organizem melhor à vinda para a grande festa, lembramos:
a.      Data: 16 e 17 de julho 2011;
b.      Local: Ribeirão Cascalheira - MT;
c.      Hospedagem: nas casas das famílias, escolas – trazer: roupa de cama, redes, colchões, objetos de uso pessoal. Para aqueles/as que queiram hospedar-se em hotéis, fazer sua reserva nestes números:
d.      Alimentação: comunitária;
e.      Trazer: prato, talher, caneca (não teremos materiais descartáveis);
f.        Feira/bazar: haverá espaço para exposição e venda de artesanatos da nossa gente;
g.      A Romaria é nossa! Estamos solicitando uma colaboração de R$ 5.00 (cinco reais) para ajudar nas despesas;
h.      O clima é bastante quente durante o dia, mas a noite poderá esfriar. Portanto, trazer uma blusa de meia estação.
i.        Programação:
Sábado – 16/07
Durante o dia chegada dos Romeiros/as
Acolhida e credenciamento na praça da Igreja São João Batista
18:30 – Celebração de Abertura e Caminhada martirial.

Domingo – 17/07
06h – Alvorada e café
07:30 – Celebração Eucarística em Memória dos Mártires da Caminhada e 40    
 anos da Prelazia de São Félix do Araguaia.
12h – Almoço e despedida

Qualquer dúvida, entrar em contato com a Equipe de coordenação da Romaria. Estamos ansiosos para que chegue logo o mês de julho, para vivermos juntos esta grande festa: a Romaria dos Mártires da Caminhada. Que Jesus, o Mártir Maior, nos ajude a sermos Testemunhas do Reino com paixão, alegria e jeito humilde. Fiquemos unidos e contamos com a presença de todos.
Amém, Axé, Awire, Aleluia!

                       Ribeirão Cascalheira, Abril 2011

Equipe de Coordenação

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Profecia Papal

Hoje recordamos a morte de D. Manuel Larraín, bispo chileno que junto a D. Hélder Câmara contribuiu positivamente para muitos temas no Concílio Vaticano II. Deram primazia ao tema da pobreza, dos países do terceiro mundo e a colegialidade episcopal. Veja em seguida um depoimento profético de um téologo alemão naquele tempo pós-Concílio:
Este texto foi tirado do jornal Rumos 216.
Tornou-se conhecida a profecia de um teólogo católico alemão de 42 anos de idade, feita em 1969, em plena agitação daquele tempo de radialismos e barricadas. Ele descrevia a visão de um papado post-imperial liberado de riquezas e pretenções de poder terreno:
"Depois das atuais crises, a igreja que surgirá amanhã terá sido despojada de muita coisa que agora conserva. Será uma Igreja bem mais pequena. E terá que recomeçar como o fez nos seus primórdios. Ja não terá condições de lotar os edificios que foram levantados nos seus períodos de grande esplendor. Tendo um número bem menor de seguidores, perderá muitos dos privilegios que vinha tendo na sociedade. Ao contrário do que era costume até o presente, ela surgirá muito mais como uma comunidade de livre opção... comunidade muito menor em número e por isso mesmo exigirá maior participação e criatividade de cada um dos seus membros e certamente reconhecerá novas formas de ministérios; convocará ao presbiterato cristãos idôneos que exercem também outras profissões... Tudo isso vai torná-la mais pobre; será uma Igreja de gente comum... Claro isso vai tardar ainda. O certo é que esse processo será lento e doloroso."
O teólogo era José Ratzinger. Sua visão de 40 anos atrás alcançará uma concretização com a qual êle não havia podido imaginar.
Jeff Israely e Howard Chua-Eoan
New Yorki Magasin em união com CNN
06/2010

Belo Monte - A economia acima da vida

Acompanhem o pequeno vídeo com depoimentos que tratam das ameaças sofridas pelo povo por causa da usina de Belo Monte.
http://youtu.be/Vcg998ukRVs

terça-feira, 21 de junho de 2011

Recensão do Livro Caminhos de Existência

LIBANIO, João Batista. Caminhos de existência. São Paulo: Paulus, 2009 (Coleção temas da atualidade).
A escolha de um livro tem ao menos duas motivações: o tema e o autor. A obra Caminhos de existência congrega a ambas. João Batista Libanio consagrou-se no elenco dos principais teólogos da libertação do Brasil e da América Latina. Jesuíta, professor emérito da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), escreveu 69 livros discorrendo sobre os mais diferentes assuntos. Recentemente publicou Em busca da lucidez: o fiel da balança e Juventude, seu tempo é agora. A linguagem das suas obras caracteriza-se pela profundidade, ousadia e simplicidade no modo de tratar o tema. A leitura torna-se agradável, permite a reflexão e favorece ao leitor alçar voos.
Caminhos de existência resulta do trabalho do grupo de pesquisa Fé e Contemporaneidade realizado na FAJE. Tal grupo integra o programa nacional de grupos de pesquisa do CNPq. O autor, diante da complexidade do momento atual, interroga quais diferentes caminhos apresentam-se para a existência humana a fim de que o ser humano realize sua vocação e encontre a felicidade. Na introdução, Libanio anuncia a fé humana e teologal como estradas para percorrer tais “caminhos da existência”. Fé humana para ele significa “confiança no existir humano” e Fé teologal como “dom de Deus e acolhida do ser humano”.
O leitor encontrará oito caminhos existenciais. Todos iniciam com breve fenomenologia seguida de análise crítica. Esta propõe oferta, vantagens, problemas, dificuldades e o futuro de tal caminho. Dinâmicas finalizam cada capítulo e estas incluem perguntas para reflexão pessoal ou grupal e breve bibliografia sugestiva para aprofundar o caminho existencial. Nas vias apresentadas, encontram-se itinerários distintos não como oferta de mercado, mas como sugestão para cada leitor “repensar a si mesmo” e avançar na história com maior lucidez.
O primeiro capítulo trata da religiosidade tradicional católica. Ela apresenta uma primeira via de sentido para a vida de fé. O imaginário religioso católico, transmitido há séculos pela Igreja, predomina neste caminho. Valorizam-se na família aspectos como a autoridade paterna e a religiosidade materna. A catequese e o ensinamento do magistério complementam a formação religiosa tradicional. A devoção aos santos e a Nossa Senhora cumpre papel relevante. Predomina a submissão a deliberações normativas de fora do sujeito sem questionamentos profundos. Apela-se para mitos sobre o futuro de salvação e condenação eterna a fim de manter a tranquilidade da consciência dos fiéis. O catolicismo tridentino reforçou ainda mais a religiosidade popular tradicional. O clero assume a função de orientar os fiéis com autoridade inquestionada. A análise crítica do Libanio indica como vantagem de tal caminho a segurança, a tranquilidade e a objetividade confundidos com comunhão. A religiosidade tradicional católica oferece a promessa de “um sentido último, final e global para a vida na terra e além dela”. Libanio vê como limite nesse caminho restrições à liberdade e à autonomia do sujeito. O futuro de tal caminho tende a desaparecer, embora resquícios surjam resistentes em novas estradas.
O segundo capítulo apresenta a via cristã da secularização existencial em busca de um humanismo. A existência precede a essência. Privilegia-se a consciência em relação às normas. A tradição cede lugar à decisão autônoma. Apresenta-se tal caminho na esteira da virada hermenêutica do sujeito em que se valoriza a razão científica, a subjetividade e a autonomia. Os cristãos optam por tal via certos de que realizam a fé cristã. Reconhecem a fé anônima naqueles que não crêem. Não admitem o estereótipo de secularismo, embora, em sentido material, aproximem-se dele. Em relação às instituições autoritárias, surgem crises. Libanio ainda afirma que, nesse caminho, “valorizam-se as realidade humanas, terrestres e a realização pessoal”. Revela-se a busca de autenticidade e veracidade. Supera-se a concepção teística de Deus. Privilegia-se a dimensão existencial do ser humano e opta-se pela vida de Jesus. Deus que se fez gente. A análise crítica aponta tal caminho válido para ateus e cristãos. Mostra o valor da imanência do humanismo sem perder a transcendência nele contido. O risco aparece quando, ao acentuar o existencial, cai-se no subjetivismo. Perde-se a dimensão da alteridade e pouco se valoriza o social. Com a ascensão da cultura pós-moderna, tal caminho tende ao crescimento e a maior adesão.
A via ateia militante e sapiencial como realização humana constitui-se como tema do terceiro capítulo. A negação de Deus torna-se necessária para a felicidade humana. Aparecem duas tendências: o ateísmo aguerrido e o sapiencial. No primeiro, combate-se a crença em Deus. A partir daí, constrói-se novo caminho. O ateísmo sapiencial não combate a Deus, pois não reconhece tal necessidade. Apenas apresenta a sabedoria humana que conduz naturalmente à supressão de qualquer crença na existência divina. Libanio recorre a alguns autores para falar de uma espiritualidade ateia. Apresenta como vantagens de tal caminho a responsabilidade intransferível dos atos humanos sem recorrer a qualquer transcendência e a libertação das culpas impostas pelas religiões através da moral negativa de um Deus punitivo. O autor lança como dificuldade da via ateia o terrível anúncio da morte. Ampliam-se perguntas sem respostas diante do sofrimento humano, das injustiças sociais e do crescimento da pobreza. O silêncio do presentismo de tal caminho não oferece possibilidades para tais problemas. O futuro desse caminho liga-se à cultura do consumismo. Haverá futuro para uma sociedade neoliberal pautada nesse paradigma?
O compromisso social cristão aparece como caminho de existência desenvolvido no quarto capítulo. Nutre-se da teologia da libertação. A fé cristã e eclesial manifesta-se na caminhada das CEBs e das pastorais populares. Caracteriza-se tal caminho pela desconstrução de práticas religiosas alienantes e explicita-se a opção pelos pobres em perspectiva da sua emancipação. Revela-se o caráter libertador da fé. Cristãos que optam por tal caminho articulam-se em movimentos sociais na luta contra o sistema capitalista e na construção de nova sociedade. “Propugna-se por uma terceira revolução da subjetividade para além da pós-modernidade em que o aspecto relacional seja o fundamental e não a pura interioridade das consciências e liberdades”. Como vantagem de tal caminho revela-se o “sentido altruísta que habita o coração humano”.  A exemplo da vida de Jesus, os seguidores dessa via conduzem seus passos envolvidos de compaixão pelo sofrimento e pelo grito dos empobrecidos. Somam-se o compromisso ético e o engajamento sociopolítico. A desvantagem está no ambiente pós-moderno que afasta os cristãos desse compromisso. Proclama-se o fim da história e nega-se qualquer utopia. Eis a ditadura do presentismo. Libanio, ao ver o futuro de tal caminho, sublinha que não há nada que aponte o reavivamento dessa via manifestada com entusiasmo em décadas anteriores.
O quinto capítulo trata da via da religiosidade moderna e pós-moderna carismática, passando pela experiência do convertido até o neopaganismo. A tese central do capítulo baseia-se na teoria de Denis Lecompte. A efervescência religiosa atual corresponde a “um colorido pagão natural”. Libanio reconhece o valor da busca religiosa após a crise do socialismo, mas explicita em tal busca o reaparecimento do paganismo sob diversas formas. A oferta desse caminho aponta respostas imediatas ao momento atual da cultura pós-moderna. Autonomia do sujeito, expressão livre da religiosidade e negação da institucionalidade religiosa revela o clima de tal via. Como desvantagem, a religiosidade moderna e pós-moderna carismática caminha em lado oposto à via anterior. Busca-se consolo em práticas espiritualistas e esconde-se o caráter ético e solidário do evangelho. A trajetória espiritual prometida revela-se anticristã e neopagã. Como futuro, tal via encontra força na atualidade devido às características próximas da condição pós-moderna próprias do tempo presente.
Apresenta-se no sexto capítulo a via do “tudo vale”, até a perversidade da transcendência. Caminho da subjetividade ao extremo. Para satisfazer o gozo, o prazer imediato e a felicidade banal, tudo vale. Acentua-se o imperativo da realização dos sentidos. J. Guillebaud fala da tirania do prazer. O aspecto principal sintetiza-se “no equilíbrio da tensão entre a vida dos sentidos e o desejo ilimitado”. Desenvolve-se em tal via a perversão da transcendência. O desejo se satisfaz não apenas na imanência da sabedoria do amor, mas na vulgaridade de saciar a qualquer custo os próprios instintos. Revela-se nesse caminho extremo hedonismo, a radicalização do presentismo e a explosão da satisfação imediata do prazer. Numa análise crítica, Libanio explicita como tal via desmascara a cultura atual. Ajuda-nos a compreender melhor a cultura pós-moderna com seus desvios decadentes e doentios. O cinismo caracteriza a via do “tudo vale”. Na concepção darwiniana, o cinismo representa a negação da emersão da consciência. Leva o ser humano ao afastamento do seu profundo desejo de convivência com os outros. O egoísmo torna-se um inferno. O futuro promete o esgotamento de tal via, pois esta não suporta o cinismo globalizado. Prosseguir em tal caminho representa a morte da cultura e da humanidade.
Em escala crescente, surge novo caminho de existência. A via virtual aparece como tendência predominante. Substituem-se as relações pessoais, face a face, pelas relações virtuais a partir das novas tecnologias da comunicação. O abraço apertado, o beijo na face, a boa conversa olho a olho cede espaço para os encantos da telefonia celular, da internet e das redes de relações virtuais. Acende-se novo tipo de liberdade. Depende unicamente da decisão pessoal. Enquanto há prazer, permanece-se conectado. Ao menor sinal de infelicidade, basta “deletar”. Na análise crítica de Libanio, contata-se que as novas tecnologias da informação revolucionaram a vida em vários aspectos. Transformaram a economia mundial, mostram-se promissoras no campo intelectual e profissional, revolucionaram os meios de produção, permitem superar os excessos da subjetividade e contribuem para democratizar os meios de comunicação. Surgem dificuldades nesse caminho. Explodem páginas virtuais com incentivo à pornografia, consequentemente ampliam-se as patologias sexuais; hackers invadem a intimidade dos navegadores, contas bancárias encontram riscos de privacidade. Libanio aponta um futuro tenebroso. Tudo se reduz ao virtual. Assombra-nos a irresponsabilidade diante da vida, da convivialidade e do compromisso social.
O último caminho proposto pelo autor trata da via do profissional, do executivo, do homem da instituição (clero; yuppie). A vida centra-se na profissão. A família, o sucesso, o dinheiro, a glória e o poder dependem da realização profissional. A vocação para determinado trabalho torna-se secundária. Priorizam-se o estudo, a especialização e o reconhecimento social através do acúmulo dos títulos. Examinam-se com atenção o prestígio e a capacidade de liderança. Ocorre verdadeira jornada de sucesso e frustração. Tal caminho apresenta-se profícuo na sociedade atual diante da lógica da concorrência. Sobressaem-se na profissão os melhores. A qualificação e a especialização garantem sucesso e sensação de segurança. Por outro lado, “paga-se alto preço existencial pelo sucesso”. Aqueles que optam por esse caminho existencial tendem a alcançar resultados econômicos altos e a sentir o vazio das relações próximas e da convivência pessoal. O futuro de tal caminho acena-se duvidoso. Pode alcançar duplo destino, a “extrema profissionalização” ou a “reação humanizante.
Livro bem fundamentado. Esbanja possibilidades para a reflexão. Consegue apresentar questões existenciais com propriedade, espírito crítico e aponta perspectivas. Excelente obra para leitura pessoal ou grupal. Recomendado para lideranças pastorais, orientadores espirituais e leitores interessados em livros de espiritualidade.



Daniel Higino Lopes de Menezes
Belo Horizonte, 30 de agosto de 2010.

Este texto foi publicado na REB Jan/2011 nº 281.

domingo, 19 de junho de 2011

Agenda da Semana: de 19 a 25 de junho

19 - Solenidade da Santíssima Trindade: festa das comunidades;
20 - Dia mundial dos refugiados (ONU);
21 - Ano Novo Andino;
22 - Manuel Larraín, bispo de Talca, presidente do CELAM e grande articulador juntamente com D. Hélder Câmara da Igreja dos Pobres no Concílio Vaticano II (+1966);
23 - Festa de Corpus Christh;
24 - Festa do nascimento de S. João Batista;
25 - Encontro de avaliação e planejamento com as equipes das Santas Missões Populares em Sobradinho;
        Vigília em preparação a Romaria dos Mártires da Caminhada às 17hs no Centro Cultural de Brasília.

Artigo de Bruno Forte enviado por D. Édson Damian sobre Charles de Foulcauld

Na escola de Foucauld e de Voillaume, o amor dá um sentido novo à
vida, um sentido até revolucionário, se confrontado com a lógica do
sucesso que domina as ambições do mundo.
A reflexão é do teólogo italiano Bruno Forte, arcebispo de
Chieti-Vasto, na Itália. O artigo foi publicado no jornal Il Sole 24
Ore, 05-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
"C'est à vous, théologiens, de faire parler la charité": foi com estas
palavras que Magdeleine de Jésus me acolheu, a fundadora das
Irmãzinhas de Jesus, quando já há muitos anos fiz algumas aulas de
teologia com essas mulheres consagradas, humilde e corajosas,
provenientes de todas as partes do mundo. "A sua tarefa, teólogos, é
fazer falar a caridade": a verdade dessa afirmação é comprovada pelo
belo livro de um jovem teólogo, sacerdote da Fraternidade Jesus
Caritas, Cruz Oswaldo Curuchich Tuyuc, fruto de uma tese de doutorado
apresentada na Universidade Lateranense, intitulada Charles de
Foucauld e René Voillaume. Esperienza e teologia del 'Mistero di
Nazaret' (Ed. Cittadella).
O propósito do livro é focalizar o valor teológico da vivência
espiritual desses dois grandes testemunhos da fé cristã no século que
há pouco findou: Charles de Foucauld (1858-1916), beatificado em 2005
por Bento XVI, e René Voillaume (1905-2003), que foi, em certo
sentido, o apóstolo mais conhecido do primeiro, juntamente com a já
citada Magdeleine de Jésus.
O impacto de Foucauld sobre a espiritualidade do século XX foi vasto e
profundo, como demonstram as muitas famílias religiosas que se
inspiram nele: não é à toa que um teólogo da estatura de Yves Congar
pôde afirmar que, sob o perfil da experiência espiritual, todo o
século XX foi iluminado por dois faróis, cujas vidas se concluíram na
sua abertura: Teresa do Menino Jesus, a santa da "pequena via" da
caridade, capaz de transformar a mediocridade da existência em um
extraordinário caminho de amor, e Charles de Foucauld, o jovem de boa
família que, depois de uma temporada dissipada e dissoluta,
influenciada pelo encontro com o Islã, conhecido no Marrocos por meio
da fé humilde e adoradora de muitas pessoas simples, se apaixonou por
Jesus e pelo Evangelho, e decidiu imitar seus passos com o compromisso
total da vida.
Nesse esforço apaixonado para seguir o Mestre, o frei Charles foi à
Terra Santa, onde descobriu em particular o mistério de Nazaré como
lugar e tempo precioso da "humanização de Deus". Os anos percorridos
pelo Filho de Deus feito homem no pequeno vilarejo da Galileia se
parecem, ao apaixonado buscador do Absoluto, não tanto com o prefácio
da vida pública de Jesus, mas sim com a forma mais eloquente da Sua
kénosis, a escolha do escondimento e da humilhação que o Verbo fez
para ser um de nós, habitar no abismo da nossa pobreza e preenchê-lo
com a riqueza do Seu amor salvífico.
A mensagem de Nazaré se coloca, assim, no centro da boa nova: a vida
do Filho eterno na nossa carne não é a experiência de um Deus a
passeio entre os homens – quase uma "paródia da humanidade" (Jacques
Maritain) –, mas sim a revelação de uma lógica divina, que subverte a
das grandezas deste mundo. Deus toma o nosso lugar, fazendo Seu o que
pode haver de mais pobre e insignificante entre os homens, para que
todo abismo de miséria humana se sinta alcançado, resgatado e
transfigurado pela Sua caridade.
É essa a leitura original que o frei Charles faz da teoria da
"substituição vicária", que, nos anos vividos no deserto do Saara como
eremita e testemunha do amor de Jesus entre os irmãos muçulmanos, ele
interpretará sempre mais como “badaliya”, termo de origem árabe que
significa justamente substituição e solidariedade. Ele lê sua própria
vocação como seguimento apaixonado do Deus conosco por essa estrada:
"De tal forma Jesus tomou o último lugar que ninguém lhe poderá
tirar". Por isso, afirma sobre si mesmo: "Quero passar sobre a terra
de maneira obscura como um viajante à noite". E ainda: "Viver na
pobreza, na abjeção, no sofrimento, na solidão, no abandono para estar
na vida com o meu Mestre, o meu Irmão, o meu Esposo, o meu Deus, que
viveu assim toda a sua vida e me dá esse exemplo desde o nascimento".
É a escolha dos últimos, dos mais abandonados, dos distantes. Por
isso, deixará a Terra Santa e irá para o deserto do Saara, onde a
pobreza é total, porque falta até a presença corroborante do Corpo
eucarístico de Jesus: torná-lo presente, adorá-lo incessantemente em
uma proximidade de amor simples e verdadeira aos irmãos do Islã, será
agora a tarefa da sua vida, vivida fielmente até a morte cruel, que se
ilumina com as cores do martírio.
Mais tarde, René Voillaume assumirá essa mensagem e a dilatará a todas
as situações de miséria e de abandono da terra, onde chamará os
Irmãozinhos por ele fundados a viver como Foucauld o escondimento de
Nazaré: Au Coeur des masse, a obra que Voillaume publica imediatamente
após a guerra e que o tornará conhecido em todo o mundo, traduzido em
italiano com o título significativo Come loro, fará com que muitos
descubram a via de Jesus como expoliação, solidariedade e substituição
vicária em favor dos últimos.
Na escola de Foucauld e de Voillaume, o amor – ou, como Curuchich
Tuyuc gosta de chamá-lo, "o princípio agápico", revelado na humilhação
do Filho de Deus – dá um sentido novo à vida, um sentido até
revolucionário, se confrontado com a lógica do sucesso que domina as
ambições do mundo.
"Nazaré não é mais só um lugar geográfico, mas sim um estilo de vida,
e essa certeza traz consigo a convicção da necessidade, para a Igreja
de hoje, de 'recomeçar de Nazaré', ou seja, de um retorno ao essencial
da fé". Uma apologia ao silêncio e à escuta, alternativa à barbárie do
barulho e das palavras gritadas, uma afirmação decisiva do primado do
último lugar, contra a corrida de querer ser ou de fingir que se é o
primeiro, um convite à verdade daquilo que somos diante do Eterno, ao
invés de correr atrás das máscaras da aparência e do consenso obtido a
todo custo: essa é a mensagem dessa pesquisa rigorosa e convincente.
Justamente isso, uma mensagem que vale a pena meditar nos nossos dias,
para nos abrir a escolhas de vida contracorrente, as únicas capazes de
dar liberdade e paz ao nosso coração inquieto, para além de qualquer
medida de cansaço e de aparente inutilidade, alternativas a toda
lógica de sucesso a qualquer preço, até a da opressão dos outros por
uma vã e estéril afirmação de si mesmo: justamente isso, um desafio e
uma promessa para todos.
Para ler mais:
Contribuições da espiritualidade de Charles de Foucauld em contexto de
pluralismo cultural e religioso. Entrevista especial com Edson Damian

sábado, 18 de junho de 2011

JEJUM NA LUTA POR MORADIA

JEJUM NA LUTA POR MORADIA
Pe. Daniel Higino Lopes de Menezes
            Poucos anos atrás ressurge a profecia na Igreja. Se o grito de nossos pastores se apresentava nos períodos de censura como vozes de incômoda verdade, agora os gestos ocupam o lugar do discurso. As palavras ditas em tempos passados recebiam sua força pelo testemunho, mas exigia-se naquele momento a centralidade da palavra crítica. Inverte-se no momento histórico a prioridade, “se calarem a voz dos profetas as pedras falarão”, como diz o texto sagrado. O jejum prolongado apresenta-se como sinal de anúncio do Reino da justiça e liberdade. O bispo de barra, D. Luiz Flávio Cappio, na luta pela defesa do Rio São Francisco e contra a transposição, nos ensinou a entender a vida de outro modo ao vivenciar o jejum de vários dias. Pe. José Geraldo desde o último dia 10 se propôs ao jejum permanente em defesa dos sem-teto da região de Itabira “contra a maldade e o injusto despejo”. Tal prática ficou conhecida em alguns ambientes sociais e políticos como “greve de fome”. Qual semelhança e diferença existem entre a greve de fome e o jejum permanente? Existe articulação entre ambas?
            A greve de fome e o jejum podem corresponder ao mesmo objetivo quando orientados para reivindicar o estabelecimento da justiça e o direito. Contudo se distinguem quanto à finalidade. A greve cria o fato político, ajuda a mobilizar, funciona como modo de pressão e conscientiza as autoridades a rever suas atitudes autoritárias e incapazes de diálogo. O mesmo acontece com o jejum. Contudo, esse contempla a dimensão mística e transcendental do ser humano. Ultrapassa o valor da conquista imediata e apresenta-se como sinal de esperança.
            Na tradição católica se propõe o jejum no período da Quaresma: na Quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão. Entende-se o jejum como meio de mortificação do corpo para edificação espiritual. Ione Buyst diz que “este não tem valor em si, mas é um meio poderoso para nos disciplinar e aprendermos a não seguir nossa própria vontade, mas a do Senhor”.  Frei Ariovaldo fala que “o jejum nos orienta a dar mais atenção à Palavra de Deus”. E completa: “quando a gente faz jejum, a gente fica com fome. E a fome que sentimos pode simbolizar e evocar a fome que temos da Palavra de Deus”.
            O jejum proposto pelo nosso irmão orienta-se para a solidariedade com as 300 famílias ameaçadas de despejo pelo poder econômico da cidade de Itabira-MG. A especulação imobiliária, fruto da lógica capitalista, visa apenas o lucro e a competição. Tal lógica aprofunda o abismo entre ricos e pobres. Os poderosos expulsam os pobres da terra. Estes clamam por justiça e lutam pela sobrevivência. Além do direito de permanecer na terra espera-se conquistar as condições dignas de morar no bairro, com saneamento, água, luz, segurança, lazer e infra-estrutura. Trata-se da solidariedade com Cristo sofredor presente no irmão que sofre.
            Os discípulos de João Batista ao perguntarem para Jesus onde morava, ele disse: “vinde e vede”. Quando Jesus nasceu, não havia lugar para ele na hospedaria. Quando Jesus convida ao seguimento lembra que “as raposas tem suas tocas, as aves seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Ele se une a luta dos sem teto e de todos aqueles desprovidos de habitação. O jejum torna-se esse momento privilegiado de escutar a vontade de Deus e ouvir sua Palavra. A fome por justiça e moradia digna representa a fome e sede de ver acontecer o Reino de Deus entre nós.
Sobradinho, 15 de junho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Introdução

Prezados amigos e amigas,
A fim de começar a usufruir dos novos meios de comunicação, resolvi fazer essa experiência de ter o próprio Blog. O objetivo será partilhar alguns textos de minha autoria e compartilhar outras informações e notícias relevantes.
Espero a sua contribuição com sua crítica e no debate de temas discutidos nessa página.
Abraços a todos!
Pe. Daniel Higino