sábado, 18 de junho de 2011

JEJUM NA LUTA POR MORADIA

JEJUM NA LUTA POR MORADIA
Pe. Daniel Higino Lopes de Menezes
            Poucos anos atrás ressurge a profecia na Igreja. Se o grito de nossos pastores se apresentava nos períodos de censura como vozes de incômoda verdade, agora os gestos ocupam o lugar do discurso. As palavras ditas em tempos passados recebiam sua força pelo testemunho, mas exigia-se naquele momento a centralidade da palavra crítica. Inverte-se no momento histórico a prioridade, “se calarem a voz dos profetas as pedras falarão”, como diz o texto sagrado. O jejum prolongado apresenta-se como sinal de anúncio do Reino da justiça e liberdade. O bispo de barra, D. Luiz Flávio Cappio, na luta pela defesa do Rio São Francisco e contra a transposição, nos ensinou a entender a vida de outro modo ao vivenciar o jejum de vários dias. Pe. José Geraldo desde o último dia 10 se propôs ao jejum permanente em defesa dos sem-teto da região de Itabira “contra a maldade e o injusto despejo”. Tal prática ficou conhecida em alguns ambientes sociais e políticos como “greve de fome”. Qual semelhança e diferença existem entre a greve de fome e o jejum permanente? Existe articulação entre ambas?
            A greve de fome e o jejum podem corresponder ao mesmo objetivo quando orientados para reivindicar o estabelecimento da justiça e o direito. Contudo se distinguem quanto à finalidade. A greve cria o fato político, ajuda a mobilizar, funciona como modo de pressão e conscientiza as autoridades a rever suas atitudes autoritárias e incapazes de diálogo. O mesmo acontece com o jejum. Contudo, esse contempla a dimensão mística e transcendental do ser humano. Ultrapassa o valor da conquista imediata e apresenta-se como sinal de esperança.
            Na tradição católica se propõe o jejum no período da Quaresma: na Quarta-feira de cinzas e na sexta-feira da paixão. Entende-se o jejum como meio de mortificação do corpo para edificação espiritual. Ione Buyst diz que “este não tem valor em si, mas é um meio poderoso para nos disciplinar e aprendermos a não seguir nossa própria vontade, mas a do Senhor”.  Frei Ariovaldo fala que “o jejum nos orienta a dar mais atenção à Palavra de Deus”. E completa: “quando a gente faz jejum, a gente fica com fome. E a fome que sentimos pode simbolizar e evocar a fome que temos da Palavra de Deus”.
            O jejum proposto pelo nosso irmão orienta-se para a solidariedade com as 300 famílias ameaçadas de despejo pelo poder econômico da cidade de Itabira-MG. A especulação imobiliária, fruto da lógica capitalista, visa apenas o lucro e a competição. Tal lógica aprofunda o abismo entre ricos e pobres. Os poderosos expulsam os pobres da terra. Estes clamam por justiça e lutam pela sobrevivência. Além do direito de permanecer na terra espera-se conquistar as condições dignas de morar no bairro, com saneamento, água, luz, segurança, lazer e infra-estrutura. Trata-se da solidariedade com Cristo sofredor presente no irmão que sofre.
            Os discípulos de João Batista ao perguntarem para Jesus onde morava, ele disse: “vinde e vede”. Quando Jesus nasceu, não havia lugar para ele na hospedaria. Quando Jesus convida ao seguimento lembra que “as raposas tem suas tocas, as aves seus ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Ele se une a luta dos sem teto e de todos aqueles desprovidos de habitação. O jejum torna-se esse momento privilegiado de escutar a vontade de Deus e ouvir sua Palavra. A fome por justiça e moradia digna representa a fome e sede de ver acontecer o Reino de Deus entre nós.
Sobradinho, 15 de junho de 2011

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