Pe. Elieser, o Mandacarú no Deserto
Prezados amigos/as,
É com imensa tristeza que comunico o falecimento do Pe. Elieser no dia de ontem.
O corpo dele foi velado em Ipueiras com missas às 6, 9 e 12hs.
Seu corpo foi levado para Fortaleza para ser enterrado junto com seus pais. Pe. Elieser foi um homem de Deus, profundo na sua espiritualidade, deu a vida pelo o Reino. No regime militar foi preso e torturado. Assumiu o compromisso evangélico com os pobres. Amigo próximo de D. Fragoso agora celebra sua páscoa junto com todos os santos e santas da América Latina.
Fraternalmente,
Daniel Higino
Abaixo recoloco o artigo feito para o boletim da Fraternidade Sacerdotal Jesus+Caritas com o título Mandacarú do Deserto logo após o Retiro de João Pessoa. Na época me inspirei na vida do Pe. Elieser para escrever o artigo. Se interessarem pode ler em seguida:
Mandacaru no Deserto
Acabo de receber, neste dia, na festa de S. José, padroeiro de nossa paróquia,
o boletim nº 126 da Fraternidade que nos traz o relato do retiro de João Pessoa com
os textos usados na meditação proposta por D. Eugênio Rixen. É muito bom reviver o
retiro e poder manter vivo o propósito assumido para o ano e nos alimentar desta
espiritualidade libertadora e da encarnação. Renovamos, assim, o ardor missionário e
a consciência de que somos discípulos do mestre, reconhecendo o último lugar como
expressão de serviço e entrega ao povo de Deus na caminhada presbiteral.
Ao falar da experiência deste retiro, pensei no Mandacaru. Esta planta
cactácea pertence à vegetação típica da caatinga, bioma encontrado apenas no
nordeste brasileiro. A caatinga tem uma fisionomia de deserto, com índices
pluviométricos muito baixos, em torno de 500 a 700 mm anuais. Em certas regiões do
Ceará, por exemplo, embora a média para anos ricos em chuvas seja de 1.000 mm,
pode chegar a apenas 200 mm nos anos secos. Além dessas condições climáticas
rigorosas, a região das caatingas está submetida a ventos fortes e secos, que
contribuem para a aridez da paisagem nos meses de seca. As plantas da caatinga
possuem adaptações ao clima, tais como folhas transformadas em espinhos, cutículas
altamente impermeáveis, caules suculentos, etc. Duas adaptações importantes à vida
das plantas nas caatingas são as folhas na estação seca e a presença de sistemas de
raízes bem desenvolvidos. A perda das folhas é uma adaptação para reduzir a perda
de água por transpiração. Raízes bem desenvolvidas aumentam a capacidade de
obter água do solo.
Diante desta característica da caatinga, pensei no Mandacaru, por ser uma
planta do deserto. Nós que seguimos a espiritualidade do deserto, carregamos na
nossa história de vida a marca do mandacaru. Na resistência a situações que
ameaçam a vida, no compromisso com os pobres, na ousadia de pensar outro mundo
possível, na crítica permanente ao neoliberalismo e nas políticas que geram exclusão
e violência no meio da nossa gente. Este retiro nos levou a subir a montanha e
experimentarmos neste santuário nordestino do extremo oriente das Américas o
significado místico do deserto de Jesus e do nosso lugar no mundo, ocupando o lugar
do mandacaru, nos diferentes desertos da história.
Algo que neste retiro marcou foi a partilha feita com inúmeros companheiros
nossos que trabalham no nordeste: percebi o compromisso e a luta destes nossos
irmãos nos desafios inúmeros aos quais são destinados. Sem dúvida, pude aprender
muito com as histórias de vida e as experiências contadas. Alguns com projetos mais
ousados, outros com experiências mais cotidianas, outros com experiências de
fracasso em seus projetos, mas com intensa ternura diante do sentido da missão que
não é expresso somente com vitórias, mas também com a condição de experimentar
na pele o último lugar, como espinhos que fazem sobreviver nas diferentes condições
climáticas do ministério.
Esperamos poder participar de outros retiros no Nordeste brasileiro, quem
sabe nos afastando mais do litoral e nos aproximando mais da caatinga, onde nos
reconheceremos como mandacarus no deserto. A espiritualidade do deserto, trazida
pelos irmãos do nordeste, nos aproxima da experiência vivida pelo Irmão Carlos nesta
busca de gritarmos o evangelho com a vida na construção dos sinais do Reino de
Deus em nossa sociedade.
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