quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Viva o Gordo no Troféu Imprensa (1987)

Em 1947, os grandes produtores de Hollywood se reuniram no hotel Waldorf-Astoria, em Nova Iorque, e resolveram que artistas com tendências políticas em desacordo com seu ideário não trabalhariam mais em filmes. Surgia a lista negra e a conseqüente caça às bruxas. Em pouco tempo, não somente radicais ou liberais eram perseguidos; qualquer artista que desagradasse aos chefes de estúdio era listado e não conseguia mais trabalho.Com impecável senso de oportunidade, a TV Globo escolheu exatamente o momento da Constituinte no Brasil para inaugurar sua lista negra. Quem sair da emissora sem ter sido mandado embora corre o risco de não poder mais trabalhar em comerciais, sob a ameaça de que estes não serão lá veiculados. Como a rede detém quase o monopólio do mercado, os anunciantes não ousam nem pensar em artistas que possam desagradá-la.Neste ponto, alguém pode achar que eu estou falando por interesse pessoal. Garanto que não.Não falo pelo fato de os meus comerciais não poderem ser exibidos, nem pelo fato mais recente, das chamadas pagas do meu novo espetáculo no Scala 2 “O Gordo ao vivo” terem sido proibidas. Sou um artista muito bem remunerado e meus espetáculos têm outros meios de divulgação. Graças a Deus meus shows de humor já lotavam teatros antes que eu fosse para a Globo.Que as chamadas de “O Gordo ao vivo” não passariam na emissora eu já sabia desde outubro, pelo próprio Boni, que me disse em sua sala quando fui me despedir:– Já mandei tirar todos os seus comerciais do ar. Chamadas do seu novo show no Scala 2, também, esquece. Estou vendo como te proibir de usar a palavra ‘gordo’. – claro que esta última ameaça ficou meio difícil de cumprir: a megalomani a ainda não é lei fora da Globo.Logo, não é por isso que escrevo pela primeira vez sobre esse assunto. Saí da Globo, onde conservo grandes amigos, com a maior lisura, e nunca me aproveitei deste espaço, ou de nenhum espaço, em causa própria.Escrevo, isso sim, porque atores que trabalham no meu programa, como Eliéser Mota, como Nina de Pádua, foram vetados em comerciais. As agências foram informadas, não oficialmente, é claro – como acontece em todas as listas negras – que suas participações não seriam aceitas.É triste, nesse momento, em que se escreve diariamente a democracia no Congresso, que uma empresa que é concessão do Estado cerceie, impunemente, o artista brasileiro, de um modo geral já tão mal remunerado.Finalmente, eu gostaria de dizer que Silvio Santos foi tremendamente injusto quando chamou Boni numa entrevista de “office-boy de luxo”. Nenhum office-boy consegue guardar tanto rancor no coração.

Momento de humor


O papa no twiter
Bruno Motta e sua irreverência no show Stand up



sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Organizações celebram Dia Internacional contra Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças


23.09.11 - América Latina

Karol Assunção
Jornalista da Adital

Adital

Anita é uma menina que sofre exploração sexual. Felizmente, ela é apenas uma personagem criada pela organização Save the Children para a Campanha O Futuro de Anita. Lançada hoje (23), no Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, a campanha tem o objetivo de alertar as pessoas para a exploração sexual infantil, crime que afeta milhares de crianças de todo o mundo.

A Campanha de Save the Children convida as pessoas a mergulhar no mundo de Anita (www.elfuturodeanita) e conhecer as causas e consequências da exploração sexual infantil para, assim, mudar a vida de meninas e meninos que são vítimas do crime. A campanha aponta a corrupção, a tolerância social, o machismo, a violência e a desigualdade social como algumas das causas de exploração.

A organização também destaca os tipos de exploradores, as modalidades de exploração e as consequências do crime para as crianças. De acordo com a Campanha, meninas e meninos explorados, além da violência sexual, sofrem violência física e verbal. As consequências vão desde baixa autoestima, perda da confiança nas pessoas e medo generalizado até doenças sexualmente transmissíveis, gestações indesejadas e problemas psicológicos.

O tráfico de seres humanos também é um problema que preocupa. Segundo informações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por ano, cerca de 700 mil pessoas são vítimas de tráfico. Dessas, 90% são meninas e adolescentes e 80% são traficadas para fins de exploração sexual. A organização estima que atualmente existam entre 4 e 5 milhões de pessoas em alguma situação de tráfico.

No Peru, dados do Sistema de Registro e Estatística do delito de Tráfico de Pessoas e Afins revelam que neste ano já foram registrados 385 casos de tráfico de seres humanos com fins de exploração sexual. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estima que, por ano, entre 1.000 e 1.500 crianças guatemaltecas sejam traficadas para Europa e América do Norte.

Dia 23 de setembro

O Dia Internacional contra Exploração Sexual e Tráfico de Mulheres e Crianças, celebrado nesta sexta-feira (23), foi estabelecido na Conferência Mundial da Coligação contra o Tráfico de Pessoas, realizada em janeiro de 1999 em Bangladesh. A ideia é utilizar a data para chamar a atenção de governos e sociedade civil de todo o mundo para as causas e consequências da exploração sexual e o tráfico de seres humanos, e buscar soluções para o problema.

Para isso, organizações de direitos humanos de vários países realizam atividades ligadas ao assunto. No Brasil, por exemplo, 60 estudantes promoveram nesta manhã, no centro do Recife (Pernambuco), uma mobilização com distribuição de panfletos com informações sobre tráfico de pessoas e exploração sexual.

O assunto também foi tema de uma manifestação realizada na tarde de hoje em Mar del Plata, na Argentina. Na ocasião, os manifestantes participaram de uma rádio aberta, leram um documento e marcharam pelas ruas da cidade. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Teresina e S. Féliz do Araguaia, tudo a ver com Brasília


D. Hélder certa vez nos disse: “quando a madrugada está mais fria e escura seguramente aproxima-se o raiar do novo dia”. Amanheceu em Brasília ou estou enganado?

Conta a história da Igreja do Brasil que no período do regime militar, D. Pedro Casáldaliga foi acusado de servir a Igreja de S. Féliz do Araguaia para interesses da guerrilha do Araguaia. Precisou intervenção de Roma para fiscalizar. O bispo escolhido como legado pontifício para esta vistoria foi o Arcebispo de Teresina na época, D. José Freire Falcão. Evidentemente não encontrou nada daquilo que disseram. Encontrou um homem magro, franzino, disciplinado na oração o no serviço aos pobres, despojado de riquezas e habitante de uma casa simples, pequena e acolhedora.

Com os anos D. Falcão passou a ser o Arcebispo de Brasília e D. Pedro continua até os dias de hoje em sua humilde casa. O tempo passou, ambos os prelados, agora eméritos, permanecem vivos e atuando de modo discreto naquilo que acreditam. Em 2004, D. Falcão tornou-se emérito de Brasília e em 2005, D. Pedro.

O atual arcebispo de Brasília veio de Teresina, assim como D. Falcão e o novo bispo auxiliar vem de S. Féliz do Araguaia. O que acontecerá neste novo encontro de Teresina e S. Féliz em Brasília?

Somente o tempo dirá, contudo, os desafios são imensos: a complexa vida política do Distrito Federal, a pluralidade religiosa e cultural, o abismo social perceptível entre a realidade do Plano Piloto e as cidades satélites, a formação do clero e a falta de projeto pastoral em nossa Arquidiocese.

A Igreja no Brasil nos propõe o revigoramento das CEBs, a descentralização das paróquias, o desafio da missão continental e inaugura a 5ª Semana Social Brasileira. Ambos os bispos, D. Sérgio e D. Leonardo compõem o conselho da direção da Conferência dos Bispos com o encargo de animar e incentivar os irmãos no episcopado a assumirem as diretrizes gerais da ação evangelizadora aprovadas na última Assembleia. Agora em Brasília, conseguirão implantar o caminho sinalizado nesse documento? Será que Brasília está preparada? Como conduzir a vida da Igreja particular a aderir tal caminhada pastoral?

Os fiéis incluindo os nossos presbíteros sentem-se amargurados e sofridos, como ovelhas sem pastor, ansiosos em encontrar no bispo a figura do pastor para nos conduzir no processo de renovação da Igreja de Brasília.

Desejamos a abertura da Igreja numa perspectiva ministerial, participativa, dinâmica, samaritana, solidária, misericordiosa e profética. Sonhamos com o protagonismo dos leigos/as, o ecumenismo, a opção pelos pobres, a inculturação na liturgia, a visibilidade das CEBs e sua estruturação. Esperamos a concretização da missionariedade da Igreja de Brasília. Precisamos dar maior testemunho de pobreza e humildade junto ao nosso povo, sedentos de Deus e de sua Palavra.

Deus abençoe os nossos bispos e sejamos solícitos na cooperação pelas mudanças necessárias e urgentes.

Fraternalmente,
Daniel Higino

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Discurso da Dilma na abertura da Conferência da ONU


Quando vejo a Dilma discursar, olho com otimismo e esperança o Brasil. Como não percebermos a história do nosso país e vislumbrarmos as conquistas e os novos acontecimentos. A primeira mulher a discursar na ONU trata-se de alguém do nosso Brasil. Não apenas isso, mas alguém que foi brutalmente torturada nos porões da ditadura. Para mim isso é resultado do suor e luta do povo brasileiro. Viva as organizações populares, os sindicatos combativos, a luta dos operários da cidade e do campo, as organizações de mulheres, as CEBs e as pastorais sociais. Como diz a canção: "eu acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor". Chegaremos o dia em iremos superar o capitalismo. Irá raiar o dia do fim das desigualdades escandalosas entre ricos e pobres. Comemoraremos a hora da superação da miséria e da fome. Celebraremos a vida com entusiasmo quando os direitos de cidadania será garantido para todos/as.
Engraçado, nas eleições passadas circulou várias mensagens na Internet dizendo que Dilma eleita não poderia entrar nos EUA. Para mim isso não faz diferença, mas ver a Dilma abrir a Conferência da ONU em Nova York, faz calar a boca de muita gente ignorante.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Olá amigas e amigos,
Na agenda dessa semana quero lembrar alguns fatos importantes para manter viva a memória de nossos profetas.
Dia 14 D. José Mauro morre tragicamente em acidente de carro.
Dia 15 recordamos o nascimento de CHARLES DE FOULCAULD.
Dia 17 D. Franco Masserdotti morre atropelado numa bicicleta.
Passarei alguns dias em Alagoas comemorando o aniversário de minha mãe e meus tios.
Será um encontro histórico conseguir reunir toda a família Higino.
Pode ser que eu fique alguns dias sem publicar no Blog, mas dia 20 estaremos de volta.
Abraços a todos!

domingo, 11 de setembro de 2011

Onde estávamos há dez anos?


Maria Clara Lucchetti Bingemer
Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
Adital
Creio que não há ninguém que não se recorde onde estava e o que fazia no dia 11 de setembro de 2001, há dez anos. Assim como aconteceu com outros fatos marcantes da história recente: o dia do assassinato de Kennedy, por exemplo; ou do atentado à vida do Papa João Paulo II.
Lembro bem de todos. Mas do último especialmente. Minha filha mais velha trabalhava em um banco em plena Manhattan. Meu filho fazia mestrado em Georgetown, Washington DC. Eu participava de um seminário de mística comparada em Juiz de Fora, no delicioso e sossegado seminário da Floresta. Reunidos estudantes de pós-graduação, pesquisadores e professores de várias universidades, refletíamos sobre os textos dos grandes místicos cristãos, sufis, judeus e hinduístas.
E, de repente, o telefonema de meu marido, chamando do Rio de Janeiro, ao meio dia. Fui atender com o coração meio apertado. Ele raramente me chama no meio de um dia de trabalho. Atendi..., mas não entendi. Ele dava explicações sobre já haver falado com nossos dois filhos e que estavam todos bem etc... Eu ouvia calada, enquanto me perguntava: Mas, por que não estariam bem, meu Deus? Foi quando passei do silêncio à pergunta direta.
Sua resposta veio em tom de indignação: O mundo está caindo e você não sabe de nada? Não sabia realmente. Ali não temos televisão e o telefone é escasso. Os celulares pegam mal, o sinal é baixo. Estávamos realmente protegidos, até aquele instante, da terrível notícia que dividia a história contemporânea do Ocidente entre um despreocupado e algo arrogante antes e um traumático e apavorante depois. O centro do império americano fora atacado de maneira inesperada e trágica. As duas torres gêmeas do World Trade Center, símbolo fálico do poderio econômico e financeiro estadunidense, esfacelavam-se sob os olhos atônitos da população mundial, deixando 3 mil vítimas.
Durante estes dez anos que se seguiram, não paramos de referir-nos a esse acontecimento que feriu de morte o início do novo milênio e do recém estreado século XXI. Com várias atitudes e reações diferentes, em ampla gama emocional, indo desde a revanche até o dom solidário da vida e o gesto edificante do perdão gratuito e digno. Em meio a este turbilhão de sentimentos e emoções, registro a minha: o não entendimento.
Há certas coisas na história humana que não entendo, como, por exemplo, que uma ideologia absurda e ensandecida consiga firmar-se a ponto de enviar para a morte certa e cruel seis milhões de pessoas. A Shoa, o holocausto nazista da segunda guerra mundial, sempre foi um mistério para mim. Quanto mais leio e estudo os dados objetivos que a história e a ciência política nos fornecem, menos entendo. Como é possível que o ser humano seja tão cruel e predador? Como é possível que a consigna de eliminar da face da terra todo um povo possa prevalecer e ser justificada por tanta gente? Como é possível que isto tenha de fato acontecido?
Com o macabro acontecimento de dez anos atrás passa-se o mesmo. Estudam-se as hipóteses, sobre elas se reflete, algumas parecem mais verossímeis que outras. Mas confesso que custo a entender como seres humanos acabam com sua vida e a de várias outras pessoas inocentes daquela maneira? Como é possível que aquilo tenha realmente acontecido? Como a violência humana pode chegar a este ponto e manifestar-se com tal requinte e brutalidade?
Hoje, dez anos depois, essa perplexidade continua a acompanhar-me. De posse de outros elementos acumulados ao longo desta década creio poder chegar a algumas conclusões. E uma delas é verificar que a vingança e a revanche não levam a nada nem nada previnem. As guerras unilaterais desfechadas pela nação agredida contra várias outras só fez aumentar e perpetuar o mar de sangue que o ataque às Torres Gêmeas inaugurou de forma tão sombria. Conseguiram apenas que o sangue derramado em Nova York e Washington agora corra como caudaloso rio no Afeganistão, no Paquistão, no Iraque.
Assim como dos escombros da Shoa emergiu um novo discurso sobre Deus que o identifica com as vítimas e o revela como salvador de todos, inclusive dos carrascos, também pode acontecer algo parecido com as cinzas do 11 de setembro. Urge aprender as lições do evento para encontrar um novo discurso e, sobretudo, uma nova práxis – feita de perdão e misericórdia - capaz de varrer da história humana a violência assassina que a todos vitima e agride toda forma de vida. Mais do que perguntar onde estávamos há dez anos, talvez mais urgente seja perguntar onde estamos agora e o que estamos fazendo concretamente para construir a paz.

[Autora de "Simone Weil - A força e a fraqueza do amor” (Ed. Rocco).
Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)].

sábado, 10 de setembro de 2011

E a Igreja se fez show


E a Igreja se fez show...

    Neste último domingo, dia 19 de junho, assisti a apresentação do Pe. Reginaldo Manzotti no “Domingão do Faustão”. Com certeza, o Pe. Manzotti alcançou a fama que procurava há muito tempo e hoje se tornou tão conhecido como o Marcelo Rossi (a quem imitou e seguiu) e outros "midiáticos" da Igreja Católica no Brasil e, também, do mundo da música e do entretenimento. No entanto, tal apresentação me faz parar e refletir alguns pontos: 1) O que representa para a Igreja Católica atual uma personalidade assim? 2) O que ele traz de novo, ou se realmente ele traz algo novo? 3) Que imagem de Igreja estamos passando para a sociedade com uma pessoa assim e, obviamente, para a própria Igreja, hoje tão carente de formação? Cada um destes pontos merece uma análise profunda, que não faremos, a ideia é apenas uma breve reflexão sobre o assunto, crítica, mas respeitosa.

     O Documento Lumen gentium do Concílio Vaticano II (1962-1965), que apresenta uma reflexão dogmática sobre a Igreja, destacando sua natureza e missão, começa assim: "Lumen gentium cum sit Christus", ou seja, a Igreja é luz para os povos assim como Cristo. Ser luz, no entanto, é transmitir a mensagem do Evangelho, na qual Cristo é a luz. A Igreja, que somos nós, não tem uma luz própria e não prega a si mesma e, consequentemente, não conduz as pessoas a si, pois ela não é o fim, o destino de todos. A Igreja é iluminada pela luz de Cristo, cujo Espírito a conduz. A Igreja, como "luz do mundo" anuncia Cristo e o seu Reino e conduz as pessoas a este fim, a este éschaton (destino último); assim ela é sinal e sacramento. Este mesmo documento apresenta-nos o papel dos batizados, que compõem a Igreja de Cristo, discernindo a sua vocação e missão. Isso fica claro quando ela nos remete a questão do serviço, um serviço ao Reino, a exemplo de Jesus, que na sua humildade e pequenez conduziu as pessoas à esperança num reino de amor, justiça e paz; um Jesus que declarou bem-aventurados os pobres e, a partir deles, iniciou o seu testemunho, fazendo-se pobre para de tudo nos libertar, sendo ponto de justiça, caminho e verdade.

     Preocupa-me saber o que representa o Pe. Manzotti para a Igreja e para a sociedade brasileira atual. Será que ele representa o seguimento de um Jesus pobre da Galiléia, tão profundamente descrito nos Evangelhos, ou será que ele representa a si mesmo, diante do orgulho e da vaidade, pecado tão sutil aos membros da mídia, ou daqueles que são feitos ou produzidos por ela? Quem fez o Pe. Manzotti e a sua fama e o que ele representa? Será que ele representa a Igreja Católica ou representa as gravadoras e emissoras de rádio e TV em que atua? O Pe. Manzotti anuncia a "boa nova" do Evangelho ou anuncia a "sua boa nova", tão frágil e carente de conteúdo. Com certeza, o Pe. Manzotti não representa a Igreja que eu sigo e acredito, pois sua pregação, atuação e postura estão muito longe (mas longe mesmo!) do que entendo como proposta de seguimento, discipulado e missionariedade. Não falo apenas das letras de suas músicas (muitas delas, por sinal, com graves erros teológicos que educam o povo erroneamente); não falo das suas fotos sensuais nos álbuns dos CDs; não falo dessas situações, pois é pequeno demais e nem vale a pena; mas falo da postura, atuação e pregação que deve ter um cristão, quer ele seja um leigo, um religioso ou um padre, mas uma atuação de seguimento e de exemplo... Lumen gentium! É uma pena, pois um projeto de inculturação da fé deveria ser um serviço de integração com a sociedade e não uma maneira de ser refém desta, juntando seu capital, glamour e aparência. Uma Igreja que propõe discipulado e missionariedade com o Documento de Aparecida (2007) fica a mercê diante desta forma de "evangelizar". O que representa o Pe. Manzotti? Bem, certamente, representa a si mesmo e a sua imagem...

     É evidente que sua pregação não traz nada de novo, pois dentro de músicas modernas se esconde uma postura de Igreja fechada e clerical, que coloca o padre (o sacerdote, maneira como ele sempre se apresenta) em destaque diante dos fiéis. Antes tínhamos o padre que apenas rezava a sua missa, deixando o povo na expectativa, como alguém que sempre recebe. Agora temos o mesmo padre com suas vestes carregadas e pomposas (como de antigamente) tornando-se um cantor e animador de auditório em programas de televisão e em praças públicas pelo Brasil. Não negamos que a Igreja deva adotar uma nova postura diante da sociedade moderna e pós-moderna, de maneira a integrar mais as pessoas e seus novos problemas e questionamentos, acontece que posturas assim envolvem o povo em luzes e sons, transformando o altar num palco e a Eucaristia num show, totalmente oposto aos ensinamentos da Igreja e totalmente contraditório com a proposta de Jesus, que se tornou igual e semelhante ao seu povo e só assim pôde conduzi-los no caminho do Reino (Fl 2,6-9). O Pe. diz que não faz show, fico em dúvida, então, para saber o que ele faz... Um dos seus programas de televisão chama-se "evangeliza show", algo próximo ao "show da fé" de R. R. Soares. Há que se entender que Igreja não é show business. Quando a Igreja passa a ser show ela deixa de ser comunidade, ela deixa de ser o local onde as pessoas se reúnem para partilhar do mesmo pão, ao redor de uma mesma mesa, tornando-se um só, em Cristo. Quando a Igreja se torna show ela deixa de ter eclesialidade, pois tira dos seus membros a participação ativa diante de sua missão, pois ninguém se conhece, todos são "turistas religiosos" atrás de um cantor, que neste caso, também é padre. Quando a Igreja se torna show ela se distancia drasticamente da proposta do Evangelho de Jesus, que nasceu pobre numa estrebaria, que viveu pobre na Galiléia e que morreu pobre e sozinho numa cruz em Jerusalém.

     Mas alguém poderá dizer: mas ela fala tão bem, ele atrai tanta gente... Não nego que tenha méritos, e deve haver, mas questiono a forma e o modelo com que faz tais coisas. Até que ponto as pessoas seguem a Cristo e não o Padre? Até que ponto as pessoas vão à missa pelo Padre e não pela comunidade? Até que ponto as pessoas estão usando isso para um alimento pastoral e engajamento, e sim, para um aumento do individualismo e do culto ao "Eu-com-Deus", distanciando-se de uma proposta de Igreja de comunhão? Até que ponto a mensagem do Evangelho é atrair mais pessoas para a Igreja Católica (ou para outra Igreja)? Esta nunca foi a proposta de Jesus Cristo.

     Quando questionado pelo rico faturamento que seu projeto traz, ele rapidamente diz que o dinheiro é para o projeto "Evangelizar é preciso" e não para ele. Mas o que é este projeto, que não fazer a divulgação dos trabalhos, CDs, livros, shows e produtos do padre? Evangelizar é preciso, é claro, mas o que é mesmo evangelizar? Se evangelizar for montar um projeto milionário, se for ser amigo do governador do Estado, aliado de pessoas da elite social e fazer shows, gravar CDs e ter programas de televisão e rádio, acho que não sei mesmo o que é evangelizar. Se fosse assim, Jesus deveria ter começado a sua missão no palácio de Herodes, na casa de Caifás e Anás e ter um grande acordo com Pôncio Pilatos, ao invés de começar em uma aldeia de pescadores da Galiléia. Acho que tudo isso é importante e deve e pode ser feito, desde que o horizonte último seja Cristo e o seu Reino, desde que isso possa ser multiplicado nas pequenas coisas e exemplos do cotidiano. Num momento em que Igreja reflete a sua eclesiologia (sobre a Igreja) em tentativa de resgate a pequenas comunidades, menores e mais concentradas, mas com mais vigor e postura evangélica, tal postura do Pe. Manzotti vai contra este pleito.

     Preocupa-me saber que imagem nós estamos passando de Igreja, preocupa-me saber que Igreja nós estamos formando para nossos filhos e membros e que mensagem de Reino nós estamos passando à sociedade. Foi-se o tempo em que cantávamos na missa ou nos grupos sem nos preocupar de quem era a música ou o CD (disco ou cassete na época), foi-se o tempo de que as músicas religiosas tinham mais teor evangélico e mais coerências sociais (ainda encontramos isso no Pe. Zezinho e Zé Vicente e em alguns outros), foi-se o tempo em que pertencer a determinada comunidade trouxesse ao cristão uma identidade viva e coerente, capaz de ligar a comunidade a sua vida, e assim por diante. Há um crescimento do turismo religioso motivado por fenômenos como o Manzotti, mas um declínio de conteúdo e discernimento da fé. Parece que damos razão a nossos interlocutores críticos da religião como Marx que disse: "A religião é o ópio do povo". Quando a Igreja se faz show, vemos que Marx tinha razão, pois ao invés de libertar ela aliena, pois o aprisionamento religioso faz parte de sua postura ideológica. Lamentável!

     É lamentável entender que a Igreja Católica no Brasil hoje passa a ser representada por padres midiáticos como este, onde sua proposta de missão obedece mais aos interesses das gravadoras como "Som Livre" e outras do que a proposta do Evangelho. Esta representação deixa um Jesus de Nazaré pequeno, quase esquecido, diante das luzes que compõem o grande espetáculo. É triste entender e lembrar que no passado estávamos representados (e muito bem!) por pessoas como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Ivo e Aluisio Lorscheider, Dom Pedro Casaldáliga e tantos outros que deram a sua vida de fé em favor da paz, do amor e da justiça, testemunhas autênticas do Evangelho, e hoje, quem diria, somos representados por pessoas assim... É uma pena que pessoas tão importantes e atuantes pelas causas da Igreja só sejam reconhecidas depois de mortas em martírio, como Irmã Doroty e tantos outros, esquecidos por nós (Igreja) e pela sociedade. É uma pena imensa que pessoas atuantes em pastorais sociais e em diversos movimentos sejam muitas vezes esquecidos pela Igreja ou punidos por ela (TdL) por defenderem a causa da justiça contra os ricos e poderosos; ricos e poderosos que sustentam esta estrutura piramidal e patrocinam "novas lideranças" como o Pe. Manzotti, que pela postura, servem a seus interesses.

     É triste dizer que a Igreja se fez show...

Cesar Kuzma
Teólogo leigo, católico, professor de Teologia da PUCPR. Assessor em grupos e movimentos eclesiais.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A Oração

"Três dos maiores mestres do mundo, Buda, Jesus e Maomé, nos deixaram o irrefutável testemunho de que a iluminação de suas vidas lhes veio da oração. Da mesma maneira foi rezando que milhões de hindus, muçulmanos e cristãos encontraram o único conforto.
Talvez alguns poderiam me dizer que estes se deixaram 'enganar' e que agora continuam a nos 'enganar'. Eu responderia que nesse caso, acho mesmo um certo encanto nessa 'mentira', que lhes deu razão de viver e que tornou a existência suportável.
Eu me considero alguém que anda em busca da verdade. Embora tivesse enfrentado situações desesperadoras, no plano político, nunca cheguei a perder o sentimento de paz que habitava em mim. Várias pessoas invejavam essa minha serenidade. A única explicação que tenho, é devido à oração.
Não sou um sábio, mas tenho a humilde pretensão de ser um homem de oração".
Mahatma Gandhi

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vitória na cirurgia

Olá amigas e amigos!
Hoje quero trazer notícias da cirurgia.
Para quem não sabe, após a última cirurgia cardíaca realizada no dia 28 de janeiro, ainda na recuperação, apresentou-se novo problema no coração.
Aproximadamente no início de março entre os dias 4 e 5 comecei a perceber o surgimento de Fibrilação Atrial (FA). Ocorre quando o coração vibra, mas não comprime, sinal de alerta! Situação que pode ser fatal.
Posteriormente se desenvolve o Flutter Atrial. Nesta, o coração pulsa, mas fora de ritmo, como se houvesse sobrecarga de impulso elétrico, o qual, descontrola o funcionamento do mesmo.
Meu cardiologista tentou reverter por vários meses através de medicação. Trabalho inútil, não resolveu. Com isso, tornou-se necessário novo procedimento.
Após quase dois meses batalhando com o plano de saúde a liberação, consegui! Na última sexta-feira, dia 2 de setembro, no hospital Anchieta (INCOR), realizou-se o estudo eletrofisiológico com ablação. Tal procedimento utiliza-se cateter pela veia femural introduzida na virília até o coração. Com o processo de identificação do ponto gerador do flutter, a médica cauteriza a região devolvendo o funcionamento estável do ritmo cardíaco.
Maravilha! Sinto-me ressuscitado. Vocês não sabem o significado de escutar o coração no seu ritmo natural.
Agora me recupero do corte. Muito doloroso e incômodo, mas consolado pelo resultado positivo.
Lamento ter me ausentado dos meus compromissos. A saber: avaliação da Romaria dos Mártires com preparação do Encontro Nacional de Fé e Política, celebrações dominicais, audiência pública no Porto Rico, aula no Instituto São Boaventura, visita aos assistidos dos Vicentinos da paróquia, conferência sobre Ética e Moral na faculdade Projeção, minha ausência hoje no Grito dos Excluídos e manifestação contra a corrupção política.
A vida é assim, nem sempre podemos fazer tudo o que queremos.
Seguimos adiante, animados na luta por outro mundo possível e a renovação da Igreja tornando-a mais fraterna e samaritana.
Abraço a todos/as!
Daniel Higino