Homilia - Mt 22,1-14
Queridos irmãos e irmãs,
Certo dia alguém me procurou depois da missa incomodada com a expressão: “felizes os convidados para a ceia do Senhor”. No fundo temia não estar preparada para comungar, ou desconfiava da quantidade de pessoas na fila da comunhão. Senti certo escrúpulo demasiado na pergunta, mas procurei escutá-la e tranquiliza-la. Quem será mesmo convidado para participar da ceia? O Evangelho de hoje nos apresenta caminhos para a nossa meditação.
Chama-nos atenção a pregação de Jesus em nos propor a centralidade do anúncio no Reino de Deus. O banquete do Senhor será para nós sempre antecipação do banquete eterno, e ao mesmo tempo fazer memória do da Páscoa do Senhor. A celebração eucarística nos convida a participar da festa de núpcias de Deus com o povo, desperta em nós a alegria do serviço e o compromisso em propagar o Reino.
O texto nos fala de três momentos: o convite para a festa aos convidados do Rei e sua respectiva recusa, o convite realizado aos pobres e a despedida do convidado imprudente sem o traje adequado.
A parábola de Jesus se dirige aos Sumos Sacerdotes e os anciãos do povo. Representavam, portanto, poderosos e ricos. Os sumos sacerdotes coordenavam o templo, compunham o alto clero e assumiam a responsabilidade pelas finanças e o culto. Os anciãos eram a aristocracia leiga de Israel. Donos de muitas propriedades e terras. Representavam a elite econômica da época. Achavam-se próximos de Deus. Na arrogância de seu conhecimento e atributos na sociedade impunham preceitos e normas para os judeus. Sentiam-se intocáveis e desprezavam qualquer ideia nova ou diferente.
Na parábola, Jesus toca na ferida dessas elites. O Reino dos Céus é como um rei que preparou a festa de casamento de seu filho. Festa de caráter privativo, familiar, destinado a pessoas próximas. Mandou seus servos chamar os convidados para a festa, mas eles não quiseram vir. Provavelmente pessoas ligadas aos noivos e ao Rei. Mandou outros servos convidarem e dizer: “Venha para a festa!”. Não deram atenção, preferiram cuidar do campo, dos negócios e outros ainda pegaram os servos, bateram e mataram. Curioso, aqueles aparentemente próximos do rei desprezam o convite para o casamento e ainda praticam maldade e violência.
O rei não cancela a festa, tudo pronto, mas os convidados não foram dignos dela. E completou: “portanto, ide às encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes” (Mt 20, 10). Em Lucas vai dizer: “Sai depressa pelas praças e ruas da cidade. Traze para cá os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos” (Lc 14, 21). Os servos saíram pelos caminhos e convidaram todos os que encontraram, bons e maus e a sala ficou cheia de convidados. O Reino de Deus destina-se a todos, mas os ricos a desprezam e os pobres deixa repleta a sala do banquete.
Por fim, Jesus também chama a atenção dos discípulos. Não basta o convite para a festa. Cabe vestir o traje. O amor e a misericórdia correspondem a vestimenta para entrar no Reino e participar do banquete do Senhor. Muitos ficam sem palavras diante do absurdo de pertencer aos convivas e não corresponder ao projeto de Deus. Esse será lançado nas trevas. Entre os pobres há também aqueles com cabeça de rico. Pensam já possuírem a salvação pelo fato de participarem dos cultos e da Igreja. E onde está a partilha? A justiça? E a misericórdia?
O Evangelho de hoje encerra-se com o dito “muitos os chamados e poucos os escolhidos”. O caminho do seguimento de Jesus apresenta-se aberto, encantador, repleto de surpresas. Caminho de gratuidade, perseverança e amor. Possui desafios e, por isso, dificuldades. As exigências de tal compromisso não significa sofrimento, mas renúncia e ascese. Quer dizer, capacidade de fazer opções e alegrar-se por elas.
Felizes irmãs e irmãos, somos nós, todos convidados a participar da mesa do Senhor. Não queiramos ocupar a posição dos chefes dos sacerdotes e anciãos. Eles, íntimos do rei, rejeitaram o convite. Sejamos como a multidão dos pobres e excluídos, discípulos e discípulas de Jesus. Porém, não deixemos de nos preparar para usar a vestimenta adequada para tal banquete do Reino do Pai.
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