Homenagem para Naelta
NAELTA MARIA DE JESUS DOS SANTOS
O ÚLTIMO PRIMEIRO SÁBADO
Pe. Daniel Higino Lopes de Menezes
Aprendi na teologia a orientação fundamental da fé cristã: no fim o ínicio. Jamais poderemos dizer que tudo acabou, nem mesmo dizer que algo não tem futuro. A vida sempre desabrocha com novos horizontes quando tudo parece terminado. Assim também acontece com a experiência da morte. Ela representa novo início de algo que sempre foi, mas virá a ser eterno. Naelta amou a vida e a experimentou com integridade. Jamais deixou de aproveitar com intensidade cada dia da sua vida. Alguém que soube viver não cabe num caixão ou enterrada numa cova. Tal espaço torna-se insignificante e pequeno perante sua grandeza. A vida torna-se seu destino e agora a desfruta na totalidade do ser nos braços maternos de Deus.
Recentemente Naelta me pediu para escrever um documento para sua empresa Panavision. Disse que gostava da forma como eu escrevia. Preparei com muito carinho e não tive tempo de saber se tal documento produziu seu efeito. Porém isso não importa no momento. Ao considerar o gosto dela pela minha produção, resolvi escrever esta mensagem como expressão da última homenagem. Não preciso escrever muito, mas sinto-me obrigado moralmente a registrar meu carinho e gratidão a essa grande companheira, com o meu registro por escrito.
Convivi diretamente com Naelta quando fui pároco em Santa Maria. Amizade consolidada nesses 7 anos de caminhada. Ela participou do Conselho Administrativo da Paróquia (CAP), foi membro do Conselho Financeiro Paroquial (CFP) e atuou no Conselho Pastoral Comunitário (CPC). Por dois mandatos, contribuiu no Conselho Pastoral Paroquial (CPP). Além de ter sido talvez a única pessoa a ser eleita em todos os conselhos deliberativos da paróquia, jamais perdeu a discrição e nunca se tornou arrogante pelo serviço prestado à comunidade. Naelta cuidou com muito esmero da coordenação financeira das festas do padroeiro (FÉ SANTA). Eleita como primeira tesoureira da Cáritas Paroquial e sua co-fundadora, garantiu a eficiência e a competência da missão evangelizadora da Igreja nos serviços prestados.
Além de ter participado integralmente de toda a caminhada na minha gestão como pároco, sua virtude se estende por todas as outras etapas da vida da paróquia. Observa-se a marca do seu compromisso e participação na assessoria de todos os párocos que ali passaram. Naelta não era “dona da Igreja”, esse título nunca lhe coube e jamais escutamos alguma crítica nesse sentido. Porém todos a reconheciam por aquilo que ela mesma dizia “Apenas ajudo”. Lembra-nos as palavras do Evangelho quando nos diz “somos servos inúteis, fizemos apenas aquilo que devíamos fazer” (Lc 17,10). Expressão da sua diaconia como serviço autêntico e dedicado ao Reino e à comunidade. Apaixonada por liturgia, renunciou, em parte, a tal ofício, resolveu priorizar a dimensão administrativa da paróquia, pois via ali a necessidade da comunidade e a possibilidade de contribuir com o seu carisma empreendedor.
A nossa homenagem a Naelta não se restringe em agradecer por aquilo que ela fez, mas, sim, por aquilo que ela foi e sempre será. Ao procurar resumir em poucas palavras o significado da sua vida, dizemos: ELA MUITO AMOU. Não julgava as pessoas pela aparência, ideologia, opção sexual, fragilidades ou virtudes, ela apenas amava indiscrimidamente. Talvez por isso se consolidou como conselheira. Não quero dizer das funções nos organismos colegiados da paróquia, mas como aquela que sabia ouvir e orientar as pessoas quando a procuravam. E se eu dissesse da relação dela com sua família, passaria várias páginas e não conseguiria traduzir o quanto amou a todos. Seus parentes testemunham tal afirmação.
Segundo Naelta, o primeiro sábado do mês, ela o dedicava integralmente à comunidade. Escolheu esse dia para se despedir de todos nós. Esse encontro final ocorreu com o velório na capela que ela ajudou a construir, na sede da comunidade onde colaborou na fundação. Atraiu a todos/as naquela noite de envio na S. Francisco com o seu jeito simples, terno e franciscano. Na celebração eucarística, conseguiu reunir todos os presbíteros que tiveram o encargo da coordenação da paróquia para, reunidos em torno da mesa do altar, presidirem a celebração da páscoa de Jesus realizada na páscoa da Naelta. Parabéns, minha amiga, até nesse momento marcado por saudades, você congrega e reúne as pessoas para celebrar o amor. Sua despedida final reuniu centenas de pessoas. Isso traduz a imensa gratidão de todos que conviveram contigo.
Falar de defeito? Não o lembro. Recordo a última conversa quando tratamos sobre a morte. Disse para mim que a melhor seria dormindo, sem dor e muito rápido, pois não gostaria de padecer com o sofrimento antes de consolidar a partida. Não podemos garantir como se passou seus últimos minutos, mas podemos afirmar quão repentino aconteceu e como nos fez chorar pela surpresa. O primeiro sábado do mês, talvez o último do nosso encontro, torna-se agora o primeiro dia da eternidade contemplando o novo início desse inesperado fim.
4 Comentários:
Texto belíssimo digno da Naelta. Sem muitas palavras já que foi tão bem descrito o sentimento que ela nos causou no nosso encontro nesta vida. Eu só consigo lembrar dela sorrindo, festejando, celebrando!
Um silêncio profundo, pois compreendo tão pouco a imensidão da vida/morte/eternidade.
Eliane
Interessante! Em vida todos nós já percebíamos a grandeza de Naelta e agora de uma forma mais clara percebemos um pouco mais além, que ela era o que podemos dizer um "anjo" bem discreto em nosso meio, e que, por terminar a sua missão aqui, não restava-lhe outra alternativa a não ser aceitar o convite de Jesus que lhe disse: "Vinde, bendita de meu Pai, e entrai no Reino preparado para vós."
Foram brilhantes as sua palavras, Pe. Daniel. Sintetizaram da forma mais completa possível o que pela extensão da sua nobreza era muito difícil de fazer.
Possamos todos com a convivência que tivemos com Naelta MARIA de JESUS dos SANTOS, absorver um pouco da iniciativa e do sim marianos, do sacrifício do cordeiro e da comunhão dos eleitos (marcas estas do cristianismo que ela trazia no nome de batismo e na alma,e que, acredito, justificavam o seu jeito de ser.
Um abraço a todos que partilhamos a mesma dor de saudade e separação e em especial a você Pe. Daniel, meu companheiro estimado de ministério ordenado em Santa Maria.
Cláudio Denis.
amei!
http://www.youtube.com/watch?v=SYutAwXjyAw&feature=player_embedded#at=111
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial